(Originalmente publicado em 25/04/2017 em https://medium.com/@FlaFut/evoluimos-mas-temos-muito-pela-frente-5344ea92ebbc)
Nação sempre presente
Amigos Rubro-Negros,
O Clube de Regatas do Flamengo divulgou as demonstrações financeiras anuais este mês. Os dados divulgados são positivos e reforçam o bom desempenho da atual Administração no saneamento financeiro do Clube. Seguimos no caminho certo da responsabilidade financeira, mas entendemos que ainda há importantes desafios pela frente.
Eis os principais pontos positivos que podemos destacar:
- Diminuição da dívida bruta em R$ 50 milhões, e, em especial, o fim de qualquer endividamento do Flamengo com federações ou confederações do futebol brasileiro. Fato bastante relevante, considerando o alto custo dessas dívidas, o perfil de vencimento de curto prazo, e, principalmente, a independência financeira junto a estas entidades — o que torna mais forte a posição do Flamengo para quaisquer discussões esportivas e políticas no futuro.
- Aumento do investimento no futebol, traduzido tanto no maior nível das despesas correntes, quanto nos montantes usados para aquisição de atletas e estrutura. Os investimentos em jogadores (compra de passes ou contratos de imagem) totalizaram mais de R$ 70 milhões em 2016 — ou seja, um crescimento nominal acima de 100% em relação a 2015. Os investimentos em infraestrutura totalizaram R$ 24 milhões (versus R$ 4 milhões em 2015) e, como consequência, houve a entrega do tão sonhado Centro de Treinamento Geoge Helal. Algo básico para qualquer clube de futebol, e essencial para aqueles que desejam lutar por títulos. Tal conquista coloca o Flamengo em um patamar seleto de clubes com CT´s de ponta na América Latina.
- Continuação da política de “limpeza” das contingências do Clube. Terminamos litígios de altíssimo custo como do Consórcio Plaza e dos ex-jogadores Romário e Ronaldinho Gaúcho. Todos em condições aparentemente positivas em relação ao potencial total de perda.
- As receitas do Flamengo continuam em trajetória crescente, em especial as de televisão e venda de jogadores. Depois de anos, voltamos a ter algum destaque no mercado de transações, com a venda ou empréstimo de jogadores como Kayke e Wallace — mesmo que ainda abaixo de outros clubes brasileiros.
- Por fim, o Clube continua no caminho correto de diminuição do passivo a descoberto. Ainda que tenhamos uma ressalva dos auditores neste ponto, estamos ano a ano reduzindo, consideravelmente, prejuízos criados em Administrações irresponsáveis do Flamengo.
Os pontos positivos merecem o reconhecimento pelos sócios do Flamengo e por toda a Torcida Rubro-Negra. Entretanto, pontos negativos também existem e devem ser apontados, visando a melhoria contínua do Mais Querido:
- Acreditamos que não seja razoável um Clube com mais de R$ 500 milhoes de faturamento anual não ser auditado por uma empresa de ponta, capaz de apontar deficiências, melhorar processos, aumentar a transparência das demonstrações financeiras, e principalmente, possibilitar a redução dos custos financeiros dos empréstimos, ainda extremamente altos. Tal ponto, importante ressaltar, foi considerado como prioridade no plano de governo da Chapa Azul.
- Outro ponto que preocupa é que o perfil da receita tem piorado desde 2014. Estamos com forte dependência das receitas de televisão, além da performance abaixo da expectativa nas rubricas de patrocínios, Sócio-Torcedor, bilheteria e clube social/esportes olímpicos, quando comparado com o ano de 2015 e o próprio orçamento para 2016. Se desconsiderarmos os reconhecimentos (contabilmente corretos) (i) das luvas da Globo em 2016, e (ii) da devolução do Edifício Hilton Santos, a receita bruta seria aproximadamente R$ 111 milhões menor, com faturamento de R$ 399 milhões anuais, versus os R$ 510 milhões divulgados. Número positivo, ainda que abaixo do orçamento, mas que mais uma vez demonstra a relevância da receita de TV para o Flamengo. Em outras palavras: continuamos ainda muito dependentes da Rede Globo.
- O custo financeiro da dívida continua elevado para padrões de um Clube com nosso tamanho, endividamento relativamente controlado e com geração de caixa relevante. Este é um problema que deve ser atacado, seja na melhoria da governança, seja na melhoria dos processos. O Flamengo precisa começar a construir um relacionamento com instituições financeiras de primeira linha no Brasil e no mundo, com o objetivo de acessar empréstimos com custo compatível com o seu tamanho. A Diretoria tem que trabalhar neste assunto com um planejamento claro.
- O investimento no Futebol, apesar de ter aumentado, ainda está, proporcionalmente ao faturamento, aquém do que entendemos ser o ideal para um Clube da grandeza do Flamengo.
- Apesar do volume de investimentos no futebol, o resultado em campo tem sido muito aquém do esperado pela torcida. O Clube investiu mais de R$ 70 milhões no ano passado entre contratações e luvas, como mencionado acima, mas a maior parte dos jogadores contratados sequer são escalados no time titular ou mesmo relacionados nas partidas. O que aconteceu com os responsáveis pelos equívocos nas contratações? Como são medidos os seus resultados? O Flamengo vem aumentando os seus investimentos no futebol, mas visivelmente, em relação a formação do elenco, gasta mal. Precisamos melhorar a eficiência do gasto, e os profissionais que cometeram esses erros precisam ser devidamente avaliados e responsabilizados.
- O resultado negativo dos Esportes Olímpicos é mais um problema grave da atual gestão. Ainda que a Diretoria argumente que este déficit é circunstancial, a análise dos números mostra o contrário. Os Esportes Olímipicos são deficitários e foram realmente autossuficientes somente em 2014. Isso tem que ser atacado e a Diretoria tem que ser clara e objetiva com os seus sócios, a sua torcida e seus demais stakeholders. Gostaríamos de ter uma explicação clara e sem artifícios do VP de Esportes Olímpicos e do Presidente do Clube sobre este tema.
- Finalmente, ainda que tenhamos diminuído o passivo a descoberto, a afirmação vista na imprensa de que estamos a apenas R$ 95 milhões de “virar o PL” não é de todo verdadeira. O ajuste de avaliação patrimonial é um lançamento puramente contábil que, inclusive, pelas regras contábeis atuais, não poderia ser feito. Nosso verdadeiro passivo a descoberto é de R$ 344 milhões. Em outras palavras, ainda precisamos de mais 2 ou 3 anos para, de verdade, poder dizer com muita satisfação que o Flamengo está saneado, retirando o parágrafo de ênfase do relatório da auditoria.
Nós, do FLAFUT, esperamos que 2017 seja um ano de importantes conquistas para o Flamengo. Seguiremos atentos a todos os acontecimentos do Clube, apontando acertos e erros, mas sempre dispostos a colaborar para o fortalecimento e crescimento do Flamengo, nossa grande paixão.
Esperamos que a análise das Demonstrações Financeiras do Mais Querido do Mundo tenha sido útil para a Diretoria, Sócios e Torcedores.
Estamos à disposição de todos para esclarecimentos acerca deste artigo e qualquer colaboração que possamos dar.
Saudações Rubro-Negras,
Grupo FLAFUT
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